A partir desse ponto, em seu curso de História Geral, que tem a finalidade de passar este esquema geral para seus alunos, o primeiro livro que ele recomenda é o Antropoteísmo, escrito pelo seu mestre prof. Orlando Fedeli.
Longe de querer escrever aqui um trabalho elaborado sobre este livro incrível, pois foge totalmente das minhas capacidades, farei breves comentários sobre a leitura que fiz e os pontos que me chamaram mais a atenção.
Da mesma forma que o prof. Marcelo ensina, farei esse breve comentário em forma de esquema focando na primeira e terceira parte do livro, seguindo o seu método de estudos.
O Antropoteísmo – A Religião do Homem (Orlando Fedeli)
Primeira Parte – Aspectos Gerais do Antropoteísmo
Capítulo 1 – O Criador e a Criação
Neste capítulo é abordado a relação entre o Criador e a Criatura.
A criatura gera: um apelo e uma insatisfação; uma tentação e uma frustração
- Apelo: as qualidades do ser nos leva a desejá-las até desejarmos o absoluto. A beleza da natureza deve nos mover a amar e querer conhecer quem foi o seu criador.
- Insatisfeito: pois buscamos o infinito e nelas só encontramos o finito. No entanto, essa beleza pode acabar facilmente em um momento, é instável. Um temporal ou um desastre natural muda tudo.
- Tentação: idolatria se a confundimos com Deus. Como o movimento ecologista e ambientalista de hoje.
- Frustração: os ídolos são frustrantes. Só encontramos nossa paz em Deus.
Portanto, nós devemos nos encantar diante do universo, mas sem esquecer que as criaturas são meros vestígios de Deus.
Capítulo 2 – O sonho do homem.
Na mentalidade medieval, o homem desejava abrir-se ao sol, dando a todos o seu perfume, mesmo que isso lhe custasse a vida.
Na mentalidade renascentista, o homem passa a ser avesso ao sacrifício e busca um prazer egoísta.
Resultado? A divinização do universo; desespero e frustração por não ter a felicidade absoluta neste mundo.
Também chega ao extremo oposto de negar a razão, provando que o prof. Orlando acerta ao afirmar que todo panteísmo termina em gnose e vice-versa.
A tentativa de fazer do mundo uma maravilha por meio da razão também conduz ao desespero, ao ceticismo e à magia.
Capítulo 3 – Problemas Fundamentais
- 3.1 – O igualitarismo antimetafísico e a religião do homem
– A limitação do homem o leva a encarar isto de dois modos:
- Ou como um apelo para buscar e amar o Absoluto;
- Ou uma tentação de revolta contra suas limitações. Essa revolta é contra a metafísica real e objetiva que foi estabelecida por Deus. Isso é o cerne da Religião do Homem.
- 3.2 – O Rio Cársico do Antropoteísmo: unidade da religião do homem.
Os rios do Carso iugoslavo desaparecem de repente no solo para correr subterraneamente e reaparecer depois de longa distância, dando a impressão de que são dois rios distintos. Assim, a religião do homem aparece e desaparece, mudando de nome, mas sempre com as mesmas águas doutrinárias.
Existe algo que une todas as heresias. O que seria? O antropoteísmo, ora como gnose, ora como panteísmo.
Capítulo 4 – Gnose: sentido e extensão do termo
Gnosticismo: uma religião que salva pelo conhecimento; conhecer para eles é essencialmente se conhecer, conhecer o elemento divino que constitui o verdadeiro eu.
Para gnose, o mundo é mau!
Atinge proporções de um fenômeno geral da História das religiões, sendo a unidade comum entre seitas cristãs, judaicas e pagãs.
Os movimentos do século XX são gnósticos.
Guénon: elemento comum nas grandes religiões por meio dos símbolos que te fazem conhecer a verdade.
Capítulo 5 – O antropoteísmo e sua divisão.
A heresia comum entre todas é o antropoteísmo.
Divide-se em dois ramos: gnose e o panteísmo.
Panteísmo: diviniza o corpo e a matéria, é monista, racionalista e otimista.
Gnose: dualista, oposição entre matéria má e espírito divino, é anti racional e se expressa por meio de mitos, as coisas são desordenadas e pessimista.
Conclusão: são gêmeos estranhamente iguais e contrários, a língua bífida da serpente.
Capítulo 6 – Causas da religião do Homem.
É a revolta contra Deus e sua criação.
Épocas propícias para a gnose: crises sociais e políticas.
A causa está no campo moral e trata da origem do mal, de qualquer tipo que seja.
Capítulo 7 – A língua bífida da serpente.
Gnose: serpente sussurra que o homem é deus, mas a divindade está oculta e encarcerada na matéria. O conhecimento de deus leva ao conhecimento do homem.
Gnosticismo especulativo: prepondera o papel da inteligência e da intuição.
Gnosticismo fenomenológico: predomina a vontade.
Panteísmo naturalista: tende a pecar mais com o corpo, é a forma mais baixa da religião do homem.
Panteísmo filosófico: idolatria da própria razão.
São duas formas que nascem da mesma fonte: a revolta contra nossas limitações por não aceitá-las. Consequentemente, se revolta contra Deus.
Capítulo 8 – A antimetafísica da religião do homem
Contradição: o eu que se pretende absoluto e que sonha em se esvaziar no nada.
Igualitário: nega a distinção entre ser absoluto e ser por participação.
Dialético: iguala o ser ao não ser, o tudo ao nada.
- 8.1 – Negação do princípio da identidade: cada ser é o que é.
- 8.2 – Negação do princípio de contradição: uma coisa não pode ser e não ser sob a mesma condição e tempo.
- 8.3 – Negação do princípio de causalidade e finalidade: não há distinção entre causa e efeito e também nada existe para uma certa finalidade.
- 8.4 – Negação dos Transcendentais: a negação da metafísica faz o universo um vazio.
- 8.5 – Negação de todo exemplarismo: o mundo deixa de ser feito a imagem e semelhança do criador.
- 8.6 – Recusa de aceitar o espaço e o tempo.
- A libertação gnóstica visa acabar com todas as limitações espaciais, pois a matéria é má.
- Quer transformar seres contingentes em ser absoluto.
- Quer torná-lo presente, isto é, eternizá-lo ou então fazer a eternidade imergir no agora.
- A gnose ou faz Deus mudar, ou faz o homem imutável.
Capítulo 9 – Dialética e antropoteísmo: as duas pontes entre gnose e panteísmo
Inimigas? É apenas uma briga fraterna. Aparentam ser opostas, mas, no fundo são iguais.
- 9.1 – A ponte metafísica ou criteriológica
– Para o panteísmo, Deus se confunde com a matéria que, por sua vez, se espiritualiza.
– Para a gnose, ao contrário, Deus caiu na materialidade, mas a matéria se espiritualiza
– O espírito se torna corpo, o corpo torna-se espírito.
- 9.2 – A ponte da moral:
– Moral gnóstica: ascética, tipo budista. Consequências? Depois da ascese, o homem vira místico e pode fazer o que quiser.
– Moral panteísta: gozo livre de todos os prazeres.
Capítulo 10 – Os tipos de homem segundo o Antropoteísmo
– O homem Deus é comum no Panteísmo e na Gnose.
– Homem para gnose: corpo, alma e espírito divino.
– O Panteísmo vai conduzindo o homem pouco a pouco para a gnose e vice-versa.
– Materialista crasso -> materialista filosófico -> místico do amor -> místico intuitivo.
Capítulo 11 – A religião do homem na história
– A Gnose tem sua origem no Judaísmo.
Segunda Parte – Terminologia e temas do Antropoteísm
Capítulo 23 – Conclusão
– O curto-circuito é a interconexão entre gnose e panteísmo que produziu as maiores revoluções do mundo.
– É difícil para gnose se popularizar: é demasiado abstrata, irracional. Ela faz sucesso em seitas.
– Já o panteísmo é frio, materialista e racionalista. Também tem dificuldade de se popularizar.
– A união das duas se completa, apesar de aparentemente opostas, e fazem as grandes revoluções.
Terceira Parte – O processo Histórico
Capítulo 25 – São Tomás e São Boaventura
– Mentalidade católica medieval: aceitação equilibrada dos bens existentes e também dos males relativos, há uma conformidade com a criação.
– São Boaventura: exemplarismo. A criação é um livro em que Deus se faz conhecido por meio de suas criaturas, que se revelam de três modos: vestígio, imagem e semelhança.
– Vestígio: presente em todas as criaturas por serem criadas. Logo, não existe matéria má.
– Imagem: criaturas inteligentes.
– Semelhança: estado de graça.
– Ele combate a gnose.
– São Tomás de Aquino utiliza amplamente a analogia e acentua a distância entre Deus e criação.
– Não é possível conhecer Deus pelo que Ele é, somente pelo que Ele não é.
Capítulo 26 – Decadência da Idade Média
- 26.1 – O terrível século XIV.
– Morre São Tomás e São Boaventura sem deixar sucessores, colapso da filosofia medieval.
– O Século que segue a morte deles é marcado por desorientação filosófica e desorganização social.
– O Rei da França agride o Papa, que até morreu abalado em consequência disso.
– O Rei da França escolhe o papa Clemente V
– Papado muda para Avignon, consolidando o poder da monarquia francesa sobre o papado.
– Vem o Cisma do Oriente.
– Peste-negra que além das mortes, gera fome.
- 26.2 – Duns Scoto
– Divide as escolas tomistas e agostinianas.
– Dissocia fé e razão, tirando da fé qualquer base racional.
– Conceito de univocidade: Deus poderia se contradizer, por exemplo.
– Erros modernos: Duns Scoto, Ockham e Eckhart estão na base.
– Dele surge uma linha panteísta e outra gnóstica.
- 26.3 – Mestre Eckhart
– Era dominicano e escrevia em vernáculo no lugar do latim.
– Opõe Deus ao mundo, condenando a matéria, o eu e a vontade.
– Era gnóstico.
– Foi condenado por João XXII.
- 26.4 – Guilherme de Ockham
– Era franciscano e o oposto de Eckhart.
– Negação dos conceitos universais fora do pensamento. Só existem na mente.
– Matéria é a única realidade existente.
– Primado absoluto do singular.
– Supervalorização da razão e oposição entre a fé e a razão.
– Influenciou muito Lutero.
– Esse erro causa: materialismo, racionalismo e panteísmo.
– Defende a separação entre Estado e Igreja.
Capítulo 27 – O curto-circuito: Lutero
– Eckhart e Ockham foram condenados em 1329.
– Ockham influenciou muito Lutero: autoridade, arbitrariedade e igualdade.
– A livre interpretação veio de Eckhart.
– Lutero juntou a gnose e o panteísmo nas suas ideias, formando uma revolução.
Capítulo 28 – A repulsa: anabatismo e luteranismo oficial
– O processo que reúne os dois opostos não se sustenta, gera uma repulsa depois.
– Do protestantismo, surgem novas heresias.
Capítulo 29 – O curto-circuito na arte: Leonardo
– Arquétipo do homem renascentista: muito inteligente, corresponde ao homem humanista (sabia de tudo).
– Reuniu o materialismo do renascimento com o misticismo platônico.
Capítulo 30 – A repulsão: maneirismo e barroco.
– De modo geral, o barroco não foi tão imortal como o Renascimento, mas foi tão humanista e naturalista quanto ele.
– Concílio de Trento botou freio no Renascimento.
– Oposição do barroco: maneirismo, gnóstico.
– Barroco é otimista e racionalista.
– O Maneirismo foi a primeira vez que a arte se afastou da realidade objetiva.
– Nomes do maneirismo: Michelangelo e Rafael.
Capítulo 31 – Iluminados e iluministas.
- 31.1 – Iluminados pelo Espírito Santo.
– Muitas ideias pietistas triunfam hoje.
– Quietismo é a versão “católica” do pietismo. Dele surge o jansenismo.
– Jansenismo foi uma das principais causas da Revolução Francesa.
- 31.2 – Iluministas.
– Oposição à gnose, é racionalista e materialista.
– Com Descartes começa o subjetivismo e ele é considerado o pai da filosofia moderna.
– Rousseau não era iluminista, era anti racionalista, inimigo de Voltaire, quietista e místico.
Capítulo 32 – O novo curto-circuito: Revolução Francesa
– Principal causa: iluminismo.
– Arte: romantismo.
– Duas posições aparentemente contraditórias. O que mais unia essas posições, era o ódio contra a Igreja.
– O curto-circuito foi originado pela união da maçonaria.
– Fizeram um culto à razão na catedral.
Capítulo 33 – A repulsa do século XIX
- 33.1 – Socialismo – Romantismo e Realismo.
– Revolução Francesa: gera os românticos e os realistas / socialistas utópicos e científicos.
– Romantismo: gnóstico e anti racional.
– Realismo: oposto ao romantismo
– Naturalismo: hipérbole do realismo.
- 33.3 – O desenvolvimento científico
– Século XIX tomado de otimismo pelos avanços tecnológicos.
- 33.4 – Modernismo na arte e na Religião
– Modernismo na Arte:
- Corrente materialista: cubismo e construtivismo.
- Corrente anti racionalista: surrealismo, abstracionismo e dadaísmo.
– Modernismo na religião:
- Ramo racionalista: Pe. Loisy
- Ramo místico: condenado na Encíclica Pascendi
Capítulo 34 – A Revolução Russa e o Nazismo: novo curto-circuito.
– Os que queriam uma democracia liberal e outros que queriam o socialismo, queriam derrubar o regime czarista.
– União entre socialismo e nazismo.
Últimas considerações – do autor do presente texto.
Como disse na introdução deste post, meu intuito não foi fazer um resumo ou discorrer sobre o Antropoteísmo. Meu objetivo foi colocar as ideias centrais que extrai na leitura de cada tópico a fim de auxiliar a leitura daqueles que vão ler esta obra.
O prof. Marcelo é muito assertivo ao recomendar esse livro como o primeiro da bibliografia da Escola da Verdade Histórica. A partir da leitura dessa obra, é possível entender de fato o esquema da história, da luta entre o bem e o mal, da cidade de Deus contra a cidade do homem.
Entender o que motivou todas as grandes revoluções e todas as heresias, deve servir de combustível para que todo católico combata ao lado da verdade nesta Guerra Historiográfica pela verdade e pela salvação das almas.
Dedico este singelo texto ao querido Prof. Orlando, que mesmo não o conhecendo pessoalmente, gozo das graças do seu legado e apostolado.
Muito obrigado, professor!
Gabriel de Paula – Sócio da Escola da Verdade Histórica
Comprei esse livro há anos, o li com atenção e foi muito proveitoso.